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Por Rohini Dandavate

 

Compartilho alguns pensamentos sobre a apresentação da dança Odissi em ruas, parques, estações de trem e outros lugares públicos.

Eu frequentemente tenho sido convidada a apresentar a dança Odissi em espaços públicos como gramados de universidades em Ohio, nas ruas de feiras anuais e festivais folclóricos da cidade. Optei por não participar porque os locais e contextos não são apropriados para uma performance de dança clássica. Senti que apresentar a tradição Odissi em locais não convencionais fariam com que fosse categorizada como uma forma de arte “exótica”, “folclórica” ou “popular”. Eu prezo o entusiasmo dos organizadores dos eventos e suas intençõe de mostrar uma forma de arte não familiar à comunidade, mas gostaria que tivessem sensibilidade para compreender o contexto e significado de diversas artes e práticas tradicionais, especialmente nos dias de hoje, em que informação é acessível com um clique. Entretanto, essas experiências me motivaram a buscar oportunidade apropriada em instituições educacionais e na comunidade em que eu poderia compartilhar minha arte fazer entender os significados e ideias pertinentes.

Como uma artista residente no Programa de Aprendizado de Arte do Conselho de Arte de Ohio, aprendi como as artes estão integradas nos programas regulares de escolas e colégios e comecei a trabalhar em inúmeros projetos em instituições educacionais e na comunidade, para ajudar a construir consciência e entendimento das tradições de dança e cultura indiana. Contudo, como ainda vejo artistas se apresentando em espaços públicos, me senti motivada a postar este ponto para discussão no Facebook para saber a visão e perspectiva de outros dançarinos, professores e amantes da dança. Meu post foi o seguinte:

“Compartilho um pensamento sobre apresentar a dança Odissi nas ruas, parques, estações de trem, estradas e outros espaços públicos. Os gurus que reconstruíram essa forma de dança trabalharam para acrescentar sofisticação e sutileza fazendo dela uma forma de dança clássica. Diferente de tantas formas de arte popular, que eram expressões espontâneas das pessoas para se alegrar, a dança Odissi evoluiu como expressão da espiritualidade. Então a trazemos de volta às ruas e outros espaços públicos com a finalidade de criar consciência dessa forma? Vemos outras formas clássicas de arte como balé, música clássica, ópera, sendo apresentadas em estações de trem ou nas ruas por propósitos similares? Amigos, apenas conjecturando gostaria de saber suas perspectivas.”

Esse post recebeu 17 respostas e 32 likes. Quatro participantes no grupo de  discussão consideraram espaços públicos inapropriados para apresentações de Odissi, enquanto 12 participantes foram a favor da apresentação em espaços públicos. Os três participantes que expressaram preocupação são de Orissa, o estado em que a dança Odissi se originou. Profundamente conectados com a cultura, tradições culturais e ideais embebidas na dança, para eles, a dança Odissi é um “ato de devoção, veneração”, e não apenas uma experiência performática. Sumitra Mohapatra, expoente da dança Odissi escreveu:

“Nós Oriyas, oferecemos nossa forma de dança a Lord Jagannath. Tahia é um símbolo e benção do Senhor – é a última jóia a ser colocada – sempre colocada pelo próprio Guruji – costumava ser colocada na frente de Lord Jagannath e nós dançarinos subíamos ao palco com a benção do próprio Senhor e Guruji. A mesma dignidade espiritual é apresentada como um oferecimento ao Senhor e a audiência faz parte disso.”

Esta resposta sugere o propósito desta tradição de dança e do processo de sua apresentação. Para as pessoas de Orissa, dança Odissi nos templos ou no palco é um meio para apresentar a narrativa construída em torno do ritual, o que implica importância e significado. Semelhante a este ponto de vista, o Dr. Narayan Menon, ao discutir as formas de arte da Índia no artigo As artes performáticas – uma definição, escreveu:

“No mais alto conceito de arte na India – seja música ou dança, pintura ou escultura ou arquitetura – a arte é considerada “um yantra”, um meio de adoração não por causa do texto em um salmo ou um hino em que as palavras formam uma oração. A música em si, o som, nada, é o meio de adoração. A criação da música torna-se em si mesma um ato de adoração. E assim é também com outras artes. Dr. Menon acrescenta: ” Através de tudo isso percebe-se que a religião, a arte, mito e ritual, são praticamente indivisíveis”. ( P.21 . Aspectos de Artes Cênicas da Índia, Marg Vol XXXIV No.3)(…)

Portanto, tendo em vista o objetivo principal da tradição da dança e sua técnica complexa, os participantes da discussão sentiram que um espaço público pode não permitir aos espectadores, um entendimento tanto da narrativa quanto dos meandros do movimento e nuances sutis da forma. O movimento e som contínuo dos espaços públicos, faria da dança mais uma atividade física de apelo visual, ao invés de uma experiência de alegria sublime e internalização da emoção. Especificamente, pelo fato de a dança Odissi ter sido um dos estilos de dança que evoluiu de uma parte dos serviços rituais nos templos, é espiritual em essência e requer um ambiente onde se pode experimentar a devoção ligada à narrativa e obter prazer em todos os níveis, devocional, emocional e estético. Em geral, dança Odissi, para alguns dos participantes é representativa de tradição, história, religião, espiritualidade e credos culturais de longa data, portanto a idéia de assistir uma apresentação realizada em espaços públicos não estaria em ressonância com o que pensavam. Doze outros participantes estavam a favor de assistir e apresentar essa dança em espaços públicos. Seus principais pontos de vista eram:

1.      O desejo de experimentar com esta forma de arte apresentando em locais não convencionais.
2.      Oferecer ao transeunte uma experiência e um sentimento de encantamento, alegria e beleza. Levar o Odissi ao “homem na rua” e deixa-lo descobrir essa forma de dança.
3.      Permitir uma plataforma democrática para apresentação e fazê-la acessível a todos, ao invés de apenas a uma audiência seleta. Dança para todos é o que faz essas formas menos elitistas e há espaço para o Rasika e o espetador casual.
4.      Assistir dança Odissi em locais não convencionais pode inspirar as pessoas a quererem aprender mais sobre ela. Talvez essas exibições, exposições em várias plataformas criarão interesse ou simpatia entre as pessoas.
5.      Odissi não deveria ser fossilizado para ser preservado para a eternidade. Deveria ser um espaço crescente, vibrante e desafiador. É práxis não prática.
6.      A intenção, qualidade, estética e comprometimento à forma de arte é o que conta – o local é secundário.
7.       Contanto que a intenção do dançarino seja espiritual e não trivialize essa forma de dança, o local não faz diferença. A dignidade e a arte desta dança depende da maneira em que é apresentada, não no tipo de local.
8.      Parques e outros espaços abertos foram usados inúmeras vezes em Mumbai. E as pessoas receberam calorosamente esses empreendimentos.

Pode-se concluir a partir dessas respostas que a finalidade de apresentar dança Odissi em espaços públicos para esses entrevistados veio de seu desejo de compartilhar, de experimentar, educar, fornecer uma experiência de encantamento e alegria, sem nenhum custo, para torná-la acessível para pessoas de todas as esferas da vida em comunidade, e acima de tudo levar a tradição da dança a um nível onde o público pôde descobrir, apreciar a forma de dança de sua própria lente e compreensão e optar por aprender mais sobre ela.

Com estas respostas eu gostaria de levar a discussão adiante, interpretando como a apresentação em locais não convencionais pode afetar o processo de percepção e compreensão dessa forma de dança pelas pessoas. Como parte do meu estudo de doutorado, tive a oportunidade de estudar inúmeras interpretações do processo de compreensão e compilei um agrupamento de elementos da experiência que fazem parte do processo multi-dimensional e multi-sensorial da “compreensão”. O diagrama apresentado a seguir lista os diferentes elementos de compreensão. Juntos, esses elementos da experiência formam as características essenciais da compreensão humana.

tabela

Elementos do entendimento
Como o diagrama sugere, o processo de entendimento tem dimensões cognitivas bem como sensoriais. Um indivíduo buscando entendimento de uma experiência tem de atingir não só a lógica ou explicação racional da experiência em um nível cognitivo mas também uma percepção sensorial agradável daquela experiência em um nível emocional.

A experiência de assistir a dança Odissi em espaços públicos, em meio a outros sons e atividades da rua ou plataformas do metrô, pode evocar um estímulo emocional na consciência humana e ajudar a formar uma impressão. No entanto, para facilitar a compreensão lógica torna-se necessário saber mais sobre a forma de dança. Hugh Woodworth em seu livro A Natureza e a Técnica do Entendimento escreve: entender “é evocar determinadas páginas em sua própria mente” e “uma certa integração bem sucedida de páginas” (Woodworth p.116 e 117). Em outras palavras, para a pessoa que experimenta a forma de arte pela primeira vez, o grau de integração de ideias a respeito da forma de arte pode não ocorrer devido: a informações ou descrição inadequada, associação prévia inadequada em um curto espaço de tempo. Descrições apropriadas e informações ao lado de uma experiência de performance completa, permitiria o espectador se conectar com a experiência passada e relacionar com a nova através da compreensão da similaridade e diferença, em ideias assim norteadoras do poder de decisão.

Gostaria de compartilhar um outro estudo conduzido pelo psicólogo Daniel Kanheman, sobre como o cérebro é usado para processar a informação. Em seu livro, Of  2 Minds: How Fast and Slow Thinking Shape Perception and Choice, ele discute os dois modos de pensamento evocado pela imagem da mulher com raiva e pelo problema de multiplicação. Ele refere-se aos dois sistemas como sistema 1 e 2. Segundo ele:

Sistema 1: opera automaticamente e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço e nenhum sentido de controle voluntário.
Sistema 2: coloca atenção nas atividades mentais que demandam esforço, inclusive complexos cálculos. As operações do sistema 2 estão frequentemente associadas com a experiência subjetiva agência, escolha e concentração.

Ver a imagem da mulher irritada reagindo foi um exemplo de pensamento rápido, em que os participantes do estudo não precisaram pensar por mais tempo para reagir ou se expressar. Enquanto que, ao olhar para o problema de multiplicação, os participantes precisaram pensar um pouco para entender se poderia ser resolvido ou para saber quais seriam os resultados possíveis e para decidir se gostariam de pensar na resposta. O processo de pensamento foi mais lento e sequencial na segunda situação, enquanto a reação à imagem aconteceu sem nenhum esforço. A inferência de Kanheman foi: Sistema 1: como impressões e sentimentos originados sem esforço são as fontes principais das crenças explicitas e escolhas deliberadas do sistema 2.As operações automáticas do sistema 1 geram padrões surpreendentemente complexos de ideias, mas somente o sistema 2, mais lento pode construir pensamentos em uma série ordenada de passos. Os sistemas de pensamento de Daniel Kanheman mostram como a compreensão e construção de significado também estão relacionados com o tempo envolvido no processo. Dança Odissi em espaços públicos pode naqueles breves momentos de observação:
•   Proporcionar uma nova experiência
•   Fornecer um sentimento de admiração e alegria , sem nenhum custo
•   Despertar a curiosidade
•   Tornar o transeunte ciente da forma e
•   Poderia ser usado como uma experiência

Ao todo, se facilitaria a formação de uma “impressão mental” nas mentes dos espectadores na rua. Por outro lado, um espetáculo de dança Odissi no seu ambiente definido com explicações, capacita os membros do público a nível tanto sensorial quanto cognitivo e ajuda a compreender os símbolos, o significado e as ideias representadas através da dança. Este debate esclarece que assistir a dança Odissi na rua ou em qualquer outro lugar público seria como ver a ponta do iceberg e assim fica à critério do dançarino decidir o que ele ou ela quer alcançar.

Texto completo: http://pt.scribd.com/doc/275668286/Should-Odissi-be-performed-in-Public-Places#scribd

Referencias
Woodworth, Hugh. (1949) The Nature and Technique of Understanding,The Wrigley printing Company Limited, Vancouver, B.C.
Bal, Meike. (1994). On Meaning –Making. Polebridge Press, Sonoma, California.
The Collaborative International Dictionary of English v.0.48[gcide].(Online), Available:http://onlinedictionary.datasegment.com/word/understanding
Menon, Narayan. The Performing Arts- A Definition. Marg,Volume(XXXIVNo. 3), pp. 21
http://www.scientificamerican.com/article/kahneman-excerpt-thinking-fast-and-slow/

 

 

 

 

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